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Tudo tem seu tempo certo: imediatismo entrega velocidade, mas nem sempre qualidade

A ansiedade cresce porque tudo parece acontecer ao mesmo tempo. E nada parece suficiente. É fácil confundir pressa com progresso

Desde pequena, minha mãe me embalava cantando “Menina Moça”, do Miltinho. Eu não entendia tudo, mas uma ideia ficou gravada: tudo tem seu tempo certo. Décadas depois, sigo voltando a essa lembrança, especialmente agora, em licença para me recuperar de uma cirurgia. O corpo pede pausa, e a pausa vira espelho: é quando a gente reorganiza ideias, reencontra propósitos e, curiosamente, fica cheia de projetos. O silêncio areja. A criatividade volta a respirar.

Olho para os jovens e vejo o contraste. Vivem a urgência permanente das telas: notificações, respostas instantâneas, promessas de atalhos. O imediatismo entrega velocidade, mas nem sempre entrega qualidade. A ansiedade cresce porque tudo parece acontecer ao mesmo tempo. E nada parece suficiente. É fácil confundir pressa com progresso.

Talvez o segredo seja deixar de tratar o tempo como inimigo e fazê-lo aliado. Na prática, seria como organizar o tempo em camadas: no dia, alternar blocos de foco com pausas reais, talvez até agendadas; na semana, reservar dias para criar, decidir, revisar; no longo prazo, planejar meses com um tema, seja aprender algo, consolidar, colher. Priorizar cadência em vez de intensidade e dar tempo vivo às coisas para que a profundidade apareça.

Para que isso saia do papel, tenho usado duas âncoras simples: as Regra de Três Vitórias, de J.D. Meier, e as quatro etapas do Hyperfoco, do Chris Bailey. Escolho três resultados que tornariam o dia valioso e, a partir do mais importante, protejo a atenção por um bloco contínuo. No trabalho, isso vira reunião que decide ou entrega concluída; na vida pessoal, conversa presente, leitura que acalma, cuidado que acolhe. Defino vitórias da semana, ajusto ao longo dos dias e reviso ao final. Não faço perfeito. Estou aprendendo, mas esse pequeno roteiro tem colocado o tempo a meu favor.

Liderar, seja a própria vida, projetos ou equipes é, em grande parte, proteger cadências. Não é correr mais; é escolher melhor. Um líder que sabe dizer “quando” e “quanto” preserva a qualidade das decisões, a saúde das relações e a alegria de construir. Se as redes oferecem respostas rápidas, cabe a nós fazermos perguntas melhores; e dar tempo para que as respostas amadureçam.

Antes de começar a próxima semana, deixo duas perguntas que tenho feito a mim mesma: O que merece minha atenção total nesta semana? Que espaço vou abrir para isso acontecer bem?

No fundo, aquele refrão da infância segue verdadeiro: tudo tem seu tempo certo. Quando o tempo vira aliado, a vida ganha profundidade. E a liderança ganha presença.

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