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Varejo na veia: criada após uma falência, Petz tornou-se líder do mercado pet

O Conselho de Varejo da ACSP trouxe empresários como o CEO do grupo Petz, Sérgio Zimerman, para contar suas histórias de resistência - e resiliência - até virarem cases de sucesso

No setor em que o pequeno comércio responde por 50% dos negócios - o de produtos para animais de estimação -, o Grupo Petz hoje é líder de mercado, com 7% de share e planos de investir R$ 500 milhões em lojas físicas para entregar as vendas on-line ainda mais rápido.

Mas, quem olha a gigante do ramo, que recebeu aporte de fundos internacionais e está listada na B3, dificilmente imaginaria que a empresa, fundada pelo empresário Sérgio Zimerman, 55, em 2002, nasceu após uma falência. E, a princípio, nem seria um negócio voltado para pets.

Para mostrar como muitos varejistas brasileiros driblam as adversidades, e conseguem manter a empresa em destaque mesmo em cenários adversos, o Conselho de Varejo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) encerrou as comemorações do Dia do Comerciante, que aconteceu em 16 de julho, com a presença de cases de sucesso - como a própria Petz, a perfumaria Soneda, de Minoru Kamachi, e a Di Pollini, de Pompeu Bellusci, segunda geração à frente da marca.

A partir de hoje, para inspirar outros empreendedores, o Diário do Comércio vai contar essas e outras histórias na série Varejo na Veia. E a trajetória de Zimerman até chegar à Petz é a primeira da lista.

Com formação tardia em administração, MBA em Varejo, extensões nos Estados Unidos e Europa, o CEO e fundador da Petz, eleito Empreendedor do Ano em 2018 pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), passa longe de ter uma trajetória linear de sucesso ao longo da carreira.

Mesmo com o "vírus do empreendedorismo" no sangue, ele quebrou algumas empresas até atingir a maturidade empresarial necessária para fazer a Petz deslanchar.

O aprendizado valeu: hoje, além de se tornar ecossistema de negócios, a companhia tem valor de mercado de R$ 6 bilhões. "Temos 100 mil investidores, faturamos quase R$ 3,5 bilhões e estruturamos 188 lojas em 20 estados diferentes", diz. "E vamos abrir muita loja ainda, se Deus quiser."

"EMPREENDEDOR 'FAZ FILHO'. ADMINISTRADOR CRIA"

Dita em tom bem-humorado, a frase de Sérgio Zimerman acima resume sua trajetória como empreendedor serial, até a Petz se transformar em uma gigante do varejo e profissionalizar sua gestão, após a entrada de uma gestora de fundos de private equity no negócio.

Nascido no bairro do Brás, mais precisamente no quarto e cozinha nos fundos da confecção de roupas infantis dos pais, na rua Miller, Zimerman conta que cresceu em um ambiente de comércio. "Sou do tempo em que, quando entrava alguém de terno na loja, já sabia que era fiscal", brinca. Além de vender e comprar gibis usados, também ajudava os pais comerciantes.

Sua primeira atividade empreendedora, aos 18 anos, era de animador de festas infantis. Depois, teve barraquinhas em festas de bufês, adega e mercadinho. Neste último, fez parceria com um vendedor e montou um atacado de alimentos e perfumaria - o Super Brasil.

A empreitada deu certo: dez anos depois, na virada dos anos 2000, tinha 300 vendedores externos, 300 funcionários e três lojas - sendo uma na Marginal Tietê -, que faziam com que a rede se situasse entre as maiores atacadistas do estado de São Paulo.

Mas em 2002, com a alta da taxa Selic e a escassez de crédito, teve, conforme diz, o maior privilégio que um empreendedor pode ter: falir. Entre as opções "chorar e ficar deprimido, apontar o dedo e achar culpados" versus "aprender com o ocorrido", Zimerman diz que, após refletir, escolheu a segunda. E entendeu a diferença entre culpa e responsabilidade.

"Sou responsável pelas consequências, mas não me senti culpado, pois quando tomei as decisões foi tentando acertar, corrigir o rumo da empresa", afirmou.

Assim, aproveitou o aprendizado e a especialização para abrir um novo negócio, claro. Com o espaço livre de 3 mil m² do antigo atacado, na Marginal Tietê, pensou em uma perfumaria de varejo, ou uma loja de brinquedos. Mas foi desaconselhado por fornecedores: pela falta de fluxo de pedestres, no primeiro caso, e pela sazonalidade, no segundo.

Até que um cunhado, químico, que produzia shampoos para cachorro no quintal de casa, deu a ideia: por que não abrir algo voltado para pets? "Não achei a ideia muito boa, pois a visão que tinha de pet shops era a de que parecia um comércio de segunda linha", conta.

Mas pesquisou o mercado - inclusive com o fornecedor de uma famosa marca de ração, e foi questionado se queria fazer algo "no estilo Cobasi" - a pioneira no setor. "Nunca tinha ouvido falar, mas, mesmo sem saber como começar, visitei três lojas da rede e imediatamente tomei a decisão de entrar no ramo: precisava sustentar a família, e não tinha tempo a perder."

Primeiro, tentou ser franqueado, mas não obteve retorno, e visitou as lojas da futura concorrente por dez dias para entender do negócio. Até inaugurar o Pet Center Marginal, "típico nome que empresário cria pois precisa correr para começar uma empresa", diverte-se.

UM PASSO PARA O SUCESSO

No domingo de inauguração, com 30 funcionários à espera de clientes e brinquedos infláveis no estacionamento, a loja ficou vazia, contou Zimerman. No dia seguinte, o único carro que apareceu foi do Conselho de Medicina Veterinária, com uma multa por falta de registro.

Assistindo a um programa dominical, decidiu contratar um domador-celebridade da TV por 12 domingos, chamando o público para "tirar foto com um tigre". Mas sem falar da loja.

Resultado: o estacionamento foi ficando abarrotado, a loja também, e as pessoas passaram a voltar na semana para comprar. "Nove meses depois, chegamos ao break even", destaca.

Em 2013, dez anos depois da inauguração, a rede já tinha 27 lojas - inclusive em Brasília. Mas apareceu um novo problema: as unidades do Rio de Janeiro não iam bem, por rejeição ao "Marginal" do nome, descoberta após uma pesquisa encomendada pela marca, segundo Zimerman.

Mesmo assim, o sucesso do Pet Center atraiu a atenção da gestora de private equity Warburg Pincus, que passou a deter 50% do negócio. Em 2015, além de literalmente levar um banho de loja, foi rebatizada como "Petz" - um nome "sem resistência no Brasil e no mundo", conta.

Com o novo parceiro de negócios, em 2018, o Grupo Petz lançou a marca de serviços veterinários Seres, e também o app da marca. E em 2020, em plena pandemia, abriu IPO na Bolsa, que movimentou mais de R$ 3 bilhões.

"Da última vez, não recomecei do zero, foi do 'menos' zero. Para quem é egresso da falência, as pessoas te olham e parece que na sua testa está escrito 'bandido', que você vai dar um golpe", contou. "Mas persistimos, e com tempo o mercado entendeu nossa proposta."

Ao comentar que tem recebido muitos convites para eventos para falar da sua trajetória, Zimerman disse que aceitou o da ACSP pois sabia que iria falar direto para os comerciantes que têm uma, duas ou três lojas e vivem as dificuldades do dia a dia do comércio.

"Viemos compartilhar histórias que deram certo, mas sobretudo os percalços que a vida tem. Porque o mais importante disso tudo é fazer escolhas que te beneficiem."

Também parabenizou cada comerciante que conseguiu manter a loja aberta mesmo com a pandemia, uma das mais "assimétricas" que conheceu na vida: afinal, quem era grande ficou maior, e quem era pequeno acabou sendo massacrado, reforça.

"Por isso, junto com a ACSP, mesmo eu sendo representante do varejo de grande porte, defendemos o pequeno comércio: sabemos que para existir, o grande precisa do pequeno, e sempre haverá espaço para todos."

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